No Brasil, dados mostram que a cada hora, três crianças são vítimas de abuso e em 95% dos casos , são praticados por pessoas próximas a elas
A data 18 de Maio foi instituída como o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. O assunto, que normalmente desperta repulsa e emoções intensas, merece atenção para que seja adquirida a conscientização necessária para o combate deste tipo de violência, prevenindo vidas, zelando pelo desenvolvimento e proteção das crianças e adolescentes, e responsabilizando os autores da violência.
Infelizmente,
a violência que pode se tornar um marco impeditivo no desenvolvimento é mais
frequente do que as pessoas imaginam. No Brasil, dados mostram que a cada hora,
três crianças são vítimas de abuso, representando que 70% dos estupros ocorrem
com menores de idade.
O que é violência sexual?
Violência
sexual é a violação dos direitos sexuais, no sentido de abusar ou explorar o
corpo e a sexualidade de crianças e adolescentes. A maioria das pessoas
associam violência sexual ao ato de penetração forçado, quando, na verdade, a
violência sexual infantil é muito mais ampla, gerando traumas devastadores em
qualquer manifestação que ela ocorra.
O
abuso sexual é caracterizado pela utilização da sexualidade de uma criança ou
adolescente para prática de qualquer ato de natureza sexual. Portanto, estão
previstos em lei e são considerados como abuso toque, beijos, carícia e
aliciamento, além da penetração forçada.
Compreende-se
que o abuso sexual infantil nem sempre está ligado a um ato violento e
doloroso, podendo envolver carinhos inapropriados, beijos, a exibição e
exposição da criança na prática de masturbação ou em um ambiente em que ela
presencie a prática sexual, seja com um parceiro ou através de pornografia
visual.
Já
a exploração sexual infantil engloba a prostituição de menores de idade,
pornografia com vídeos ou fotos que poderão ser comercializados, tráfico de
mulheres e turismo com motivação sexual.
O agressor está mais próximo do que
imaginamos
No
Brasil, 95% dos casos desse tipo de violência são praticados por pessoas
conhecidas das crianças. Em 65% dos casos há a participação de pessoas do
próprio grupo familiar. O agressor normalmente possui um perfil sedutor e
costuma se beneficiar do vínculo de confiança e relação afetiva que já possui
com a criança, envolvendo-a de uma maneira com que faça acreditar de que se
trata de uma brincadeira, um jogo ou uma manifestação de carinho especial por
ela ser privilegiada.
O
agressor costuma dividir segredos sobre quaisquer assuntos que possam
fortalecer o vínculo e, previamente, testar a capacidade da criança em não
revelar informações. Ao sentir-se seguro para dar o segundo passo, cria no
momento de violência um vínculo de segredo, passando a imagem de um laço íntimo
e especial, no qual, para ser mantido, podem ser oferecidas recompensas,
brinquedos, ou até motivar temores e inseguranças na fantasia da criança, como
o de, se ela revelar o segredo, seus pais poderão ficar bravos, a abandonarão,
sofrerão violência física, entre outros.
Manifestação da violência sexual
Algumas
crianças chegam a verbalizar as experiências, e não é raro que os adultos acreditem
tratar de fantasias. Vale lembrar que pesquisas apontam que apenas 6% das
crianças relatam experiências que não são reais. Principalmente pelas
experiências nem sempre serem violentas e por serem realizadas com pessoas de
seu círculo de confiança, existe enorme dificuldade em entender o que possa
estar acontecendo e, consequentemente, pedir ajuda.
A
criança não entende que está sofrendo um tipo de violência, ficando sem saber
como agir ou reagir. É fundamental que pais e professores fiquem atentos à
linguagem não-verbal de pedidos de ajuda ou sinalizações
de trauma, normalmente expressos em comportamentos, produções gráficas ou
produções lúdicas. Podem ser sinais de abuso:
Perturbações no sono: a
criança tem dificuldade para dormir ou fica com o sono agitado, podendo haver
ainda pesadelos recorrentes. Como frequentemente os abusos ocorrem na cama, a
criança acredita que, ao evitar o sono, poderá estar se protegendo do agressor.
Alimentação: o
apetite pode aumentar ou diminuir.
Desempenho
na escola: dificuldades de concentração, recusa na
participação de atividades, queda no desempenho e aproveitamento escolar.
Mudanças
de comportamento bruscas e repentinas: podem envolver
desde o desinteresse por atividades que costumam lhe dar prazer, até regredir,
recorrendo a comportamentos infantis que já havia abandonado, como voltar a
chupar o dedo ou fazer xixi na cama. É comum também que apresentem medos que
não possuíam antes, como medo do escuro. Nos desenhos, chama a atenção quando a
criança, que nunca manifestou questões de sexualidade, passa a desenhar órgãos
genitais, reproduções dela com expressão triste, posições sexuais, etc.O uso de
palavras diferentes das aprendidas em casa para se referir às partes íntimas
também é motivo alerta.
O
agressor nem sempre é um homem
Apesar
de menos comum, mulheres também praticam violência sexual infantil. Dados da
Polícia Federal revelam que a cada dez pedófilos, um é mulher. O que ocorre é
que, em geral, as mulheres são denunciadas com menos frequência. Algumas razões
podem estar ligadas a este fato: ausência de penetração durante o abuso, a
cultura machista que vê como algo normal as relações precoces entre meninos e
mulheres mais velhas ou o receio da família de, ao denunciar, transformar o
fato em um trauma muito maior, interferindo na orientação sexual dos garotos.
Prejuízos emocionais devastadores
A
criança e adolescente estão em desenvolvimento não apenas em sua forma física,
mas também nos seus aspectos psicológicos e emocionais. Vivenciar um trauma
como este pode impactar de maneira devastadora sua integridade. O abuso sexual
infantil pode desencadear o desenvolvimento de transtornos de personalidade,
quadros graves de depressão ou ansiedade, transtorno de estresse
pós-traumático, autoimagem prejudicada, dificuldades em se vincular
afetivamente estabelecendo relações de confiança, e também mobilizar um enorme
sentimento de culpa, ligado ao fato de guardar um segredo, e, em momentos
futuros, ao recuperar memórias do trauma, sentir-se impotente, vulnerável,
conivente e, até mesmo, repulsa por qualquer sensação corporal prazerosa que
possa ter ocorrido naquele momento de inocência.
A
culpa pode motivar comportamentos de autoflagelo e ideais suicidas.
Como se proteger?
Antes
de mais nada, a prevenção começa ao se estabelecer uma base de confiança e
segurança sólida da criança com os pais. Agressores sexuais tendem a buscar um
perfil de crianças que sofram de baixa autoestima e insegurança, por serem mais
manipuláveis. Quando a criança possui uma boa relação com os pais, diminui a
chance de ser vista como um alvo fácil no olhar de um agressor.
Compartilhe
valores e informações sobre o próprio corpo. Com linguagem acessível, alerte a
criança de que ninguém, sequer pessoas de seu grupo familiar, possuem liberdade
para acariciar suas partes íntimas. Incentive sempre a comunicação caso ocorra
algo neste sentido. Previamente, desfaça temores que o agressor possa
construir, assegure sempre que você não a deixará, não sentirá raiva e que
sempre estará aberta para dúvidas ou esclarecimentos.
Seja
seletivo com as pessoas que participam da vida de seus filhos, principalmente
quando se diz respeito à intimidade. Avalie e escolha quem pode ter liberdade
para entrar no quarto ou acompanhar a troca de roupas, um banho, etc.
Acredite
em seu filho sempre que trouxer alguma questão, ao invés de descartar
imediatamente o relato, achando que se trata de fantasias e imaginação.
Converse, investigue e questione. Ao confiar, você está respeitando e zelando
por seus direitos de desenvolvimento e proteção.
Apoio e providências
Caso
acredite que algo de errado está acontecendo com seu filho ou com uma criança
que você conheça, não deixe de procurar a ajuda de um psicólogo para que seja
feita uma avaliação. Esse é o caminho para oferecer um suporte emocional
adequado, que permita a elaboração de traumas e a redução dos prejuízos.
Violência
sexual é crime e deve ser sempre reportada às autoridades. Não é necessário
você ter certeza, ou ter testemunhado um fato! Se você suspeita de que algo
possa estar errado, pode denunciar anonimamente através do Disque 100 (Disque
Direitos Humanos), através do 180 ou recorrendo ao Conselho Tutelar mais
próximo.